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SIGMUND FREUD
O MESTRE


 
 

QUADRO CRONOLÓGICO DE FREUD


1856  Seis  de maio. Nascimento em Freiberg, Morávia.
1860 A família se estabelece em Viena.
1865 Entrada para o ginásio (escola secundária).
1873 Admissão na Universidade de Viena, como estudante de medicina.
1876/82  Trabalho sob a direção de Brücke, no Instituto de Fisiologia de Viena.
1877 Primeiros trabalhos publicados: escritos sobre anatomia e fisiologia.
1881 Graduação como Doutor em Medicina.
1882 Noivado com Martha Bernays.
1882/85 Trabalhos no Hospital Geral de Viena, concentrando-se em anatomia cerebral; numerosas publicações.
1884/87 Pesquisas sobre os usos clínicos da cocaína.
1885 Nomeado Privatdozent (livre-docente) em neuropatologia.
1885/86 Estudos sob a direção de Charcot no Hospital da Salpêtrière, de doenças nervosas, em Paris. Seu interesse dirige-se inicialmente para a histeria e a hipnose.
1886 Casamento com Martha Bernays. Estabelecimento de clínica particular para doenças nervosas em Viena.
1886/93 Prosseguimento dos trabalhos em neurologia, especialmente sobre a paralisia cerebral infantil, no Instituto Kassowitz, em Viena, com numerosas publicações. Mudança gradual do interesse, da neurologia para a psicopatologia.
1887 Nascimento da filha mais velha (Mathilde).
1887/01 Amizade e correspondência com Wilhelm Fliess, em Berlim. As cartas de Freud neste período, publicadas postumamente, em 1950, em muito esclarecem a evolução de seus pontos de vista.
1887 Início do uso da sugestão hipnótica na clínica.
1888 Começa a seguir o exemplo de Breuer ao utilizar a hipnose para o tratamento  catártico da histeria.
 Gradualmente abandona a hipnose e a substitui pela livre associação.
1889 Visita a Bernhein, em Nancy, para estudar sua técnica de sugestão.
1889 Nascimento do filho mais velho (Martin).
1891 Monografia sobre a Afasia. Nascimento do segundo filho (Oliver).
1892 Nascimento do filho mais moço (Ernst).
1893 Publicação de Comunicação Preliminar, junto com Breuer: uma exposição da teoria do trauma na histeria e do tratamento catártico.
1893 Nascimento da segunda filha (Sophie).
1893/98 Pesquisas e trabalhos curtos sobre a histeria, as obsessões e a ansiedade.
1895 Publicação de Estudos Sobre a Histeria, escrito com Breuer: casos clínicos e  descrição, por Freud, da sua técnica, incluindo o primeiro estudo sobre a transferência.
1893/96  Divergência gradual de pontos de vista entre Freud e Breuer. Freud introduz os conceitos de defesa e repressão e da neurose, como resultado de um conflito entre ego e a libido.
1895 Projeto para uma Psicologia Científica: incluído nas cartas de Freud para Fliess e publicado pela primeira vez em 1950. Uma tentativa abortada de colocar a psicologia em termos neurológicos mas que dá uma visão de grande parte das teorias freudianas posteriores. Nascimento da filha mais moça (Anna).
1896 Introdução do termo psicanálise. Morte do pai (com 80 anos).
1897 Auto-análise conduzindo ao abandono da teoria do trauma e o reconhecimento da sexualidade infantil e do complexo de Édipo.
1900 A Psicopatologia da Vida Diária,  junto com o livro dos sonhos, deixou claro que as teorias de Freud não só se aplicavam aos estados patológicos, como à vida mental normal.
1902 Nomeado "Professor Extraordinarius".
1905 Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade: traçando pela primeira vez o curso do desenvolvimento do instinto sexual nos seres humanos, da infância até a maturidade.
1906 Jung adere à psicanálise.
1908 Realiza-se a primeira reunião internacional de psicanálise (Salzburgo).
1909 Freud e Jung convidados a fazer conferências nos Estados Unidos. Caso clínico da primeira análise de uma criança (O Pequeno Hans, cinco anos): confirmando as conclusões feitas inicialmente na análise de adultos, especialmente no que se refere à sexualidade infantil e aos complexos de Édipo e de castração.
1910 Primeiros esboços da teoria do narcisismo.
1911 Deserção de Alfred Adler, um dos seus primeiros seguidores.
1911/15  Trabalhos sobre a técnica da psicanálise. Aplicação das teorias psicanalíticas a um caso psicótico.
1913/14  Totem e Tabu: aplicação da psicanálise a material antropológico.
1914 Rompimento com Jung. Sobre a História do Movimento Psicanalítico: inclui uma parte polêmica sobre Adler e Jung. Freud escreve sua maior história de um caso clínico, o "Homem-Lobo" (não publicada até 1918).
1915  Série de doze trabalhos "metapsicológicos" a respeito de questões teóricas básicas, dos quais só cinco restaram.
1915/17  Conferências Introdutórias: um relatório geral extenso dos pontos de vista de Freud na época da Primeira Guerra Mundial.
1919 Aplicação da teoria do narcisismo às neuroses de guerra.
1920 Morte da segunda filha. Além do Princípio do Prazer: a primeira introdução explícita do conceito da "compulsão à repetição" e à teoria do "instinto de morte".
1921 Psicologia de Grupo: começo e um estudo analítico sistemático do ego.
1923 O Ego e o Id: um apanhado revisto da estrutura e do funcionamento da mente, com a divisão em Id, Ego e Superego.
1923 Primeiro sinal de câncer.
1925 Visão revista do desenvolvimento sexual da mulher.
1926 Inibições, Sintomas e Ansiedade: pontos de vista revistos sobre o problema da ansiedade.
1927 O Futuro da Ilusão: uma discussão da religião.
1930 O Mal-Estar da Civilização. Freud ganha o prêmio Goethe da cidade de Frankfurt. Morte da mãe, aos 95 anos.
1933 Hitler toma o poder na Alemanha; livros de Freud são queimados em praça pública.
1934/38 Moisés e o Monoteísmo: o último dos trabalhos de Freud publicado em vida.
1936 Freud completa oitenta anos de idade. Eleição a Membro Correspondente da Real Sociedade.
1938 Hitler invade a Áustria. Freud abandona Viena e vai para Londres. Um Perfil da Psicanálise. Trabalho final, não terminado, mas mesmo assim uma profunda exposição sobre o assunto.
1939 Morte em Londres (23 de setembro).

 

HISTÓRIA PESSOAL

  Sigmund Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856, na pequena cidade de Freiberg, na Moravia (antiga Tchecoslováquia). Quando tinha 4 anos, sua família mudou-se para Viena. Continuou a residir em Viena até 1939, quando emigrou para a Inglaterra. Morreu em Londres em 1939.
 Durante sua infância, foi um excelente aluno. Apesar da limitada posição financeira de sua família, o que obrigou os seus oito membros a viverem em um apartamento pequeno, Freud, o primogênito, tinha seu próprio quarto e até mesmo uma lâmpada de óleo para estudar. O resto da família arranjava-se com velas. No ginásio continuou seu excelente desempenho acadêmico.
  Visto ser judeu, todas as carreiras profissionais fora a Medicina e o Direito foram-lhe vedadas – tal era o clima anti-semita prevalecente na época. Influenciado pelos trabalhos de Darwin e Goethe, ele decidiu entrar na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena em 1873.
  Suas experiências na Universidade de Viena, onde foi tratado como "inferior e estranho" por ser judeu, fortaleceram sua capacidade de suportar críticas. Permaneceu como estudante de medicina durante oito anos, três a mais do que o habitual. No decorrer desses anos, trabalhou no laboratório fisiológico do Dr. Ernst Brücke. Um pouco da crença de Freud nas origens biológicas da consciência pode ser devida às próprias posições de Brücke.
  Freud fez pesquisas independentes sobre histologia e publicou artigos sobre anatomia e neurologia. Aos 26 anos, recebeu seu diploma de médico. Continuou seu trabalho com Brücke por mais um ano e morou com sua família. Aspirava preencher a vaga seguinte no laboratório, mas Brücke tinha dois excelentes assistentes à frente de Freud.
  Apesar de se dirigir relutantemente para a clínica particular, seus interesses principais permaneciam na área da observação e exploração científicas. Trabalhando primeiro como cirurgião, depois em clínica geral, tornou-se médico interno do principal hospital de Viena. Fez um curso de Psiquiatria, o que aumentou seu interesse pelas relações entre sintomas mentais e distúrbios físicos. Em 1885, tinha se estabelecido na posição prestigiosa de conferencista da Universidade de Viena. Sua carreira começava a parecer promissora.
  Em 1884 a 1887, Freud fez algumas das primeiras pesquisas com cocaína. De início, ficou impressionado com suas propriedades. Ele escreveu a respeito de seus possíveis usos para os distúrbios tanto físicos como mentais. Por pouco tempo um defensor, tornou-se depois apreensivo em relação às suas propriedades viciantes e interrompeu a pesquisa.
  Com o apoio de Brücke, Freud obteve uma bolsa e foi para Paris trabalhar com Charcot. Este demonstrou que era possível induzir ou aliviar sintomas histéricos com sugestão hipnótica. Freud percebeu que, na histeria, os pacientes exibem sintomas que são anatomicamente inviáveis. Tornou-se claro para Freud que a histeria era uma doença psíquica cuja gênese requeria uma explicação psicológica. Charcot, percebendo o interesse de  Freud, permitiu-lhe traduzir seus escritos para o alemão quando voltou para Viena.
  O trabalho na França aumentou seu interesse pela hipnose como instrumento terapêutico. Com a cooperação do célebre e experimentado médico Breuer, Freud explorou a dinâmica da histeria (1895). Suas descobertas foram resumidas por Freud: "Os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande impressão mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada, consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências em um estado de hipnose (catarse)". Ele achou, no entanto, que a hipnose não era tão efetiva quanto esperava. Afinal abandonou-a por completo passando a encorajar seus pacientes a falarem livremente e a relatarem o que quer que pensassem independentemente da aparente relação – ou falta de relação – com seus sintomas.
  Em 1896, Freud usou pela primeira vez o termo "psicanálise" para descrever seus métodos. Sua auto-análise começou em 1897. Em 1900, ele publicou  A Interpretação de Sonhos", considerada por muitos como seu mais importante trabalho, apesar de, na época, não ter recebido quase nenhuma atenção. Seguiu-se, no ano seguinte, outro livro importante, Psicopatologia da Vida Cotidiana. Gradualmente, formou-se à volta de Freud um círculo de médicos interessados, incluindo Alfred Adler, Sandor Ferenczi, Carl Jung, Otto Rank, Karl Abraham e Ernest Jones. O grupo fundou uma sociedade. Documentos foram escritos, uma revista foi publicada e o movimento psicanalítico começou a expandir-se.
  Em 1910, Freud foi convidado para ir à América pronunciar conferências na Universidade de Clark. Seus trabalhos estavam sendo traduzidos para o inglês. As pessoas foram se interessando pelas teorias do Dr. Sigmund Freud.
  Freud passou sua vida desenvolvendo, ampliando e elucidando a psicanálise. Tentou controlar o movimento psicanalítico, expulsando os membros que discordavam de suas opiniões e exigindo um grau incomum de lealdade à sua própria posição. Jung, Adler e Rank, entre outros, abandonaram o grupo após repetidas divergências com Freud a respeito de problemas teóricos. Mais tarde, cada um fundou sua própria escola de pensamento.
  Freud escreveu extensivamente. Suas obras completas compõem-se de 24 volumes e incluem ensaios relativos aos aspectos delicados da prática clínica, uma série de conferências que delineiam toda a teoria e monografias especializadas sobre questões religiosas e culturais. Tentou construir uma estrutura que sobrevivesse a ele, e que eventualmente pudesse reorientar toda a psiquiatria para sua posição. Ele era constrangedor e tirânico. Temia que os analistas que se desviavam dos procedimentos estabelecidos por ele pudessem diluir o poder e as possibilidades da psicanálise. Queria, sobretudo, impedir a distorção e o uso incorreto da teoria psicanalítica.
  À medida que o trabalho de Freud tornava-se de modo geral acessível, as críticas aumentavam. Em 1933, os nazistas queimaram uma pilha de livros de Freud em Berlim. Quando os alemães ocuparam a Áustria, em 1938, foi permitido a Freud ir para Londres. Ele morreu um ano depois.
  Os últimos anos de Freud foram difíceis. De 1923 em diante, ele esteve mal de saúde, sofrendo de câncer na boca e mandíbula. Tinha dores contínuas e sofreu trinta e três operações para deter a doença que se expandia.
  Sempre envolvido em debates a respeito da validade ou utilidade de seu trabalho, ele continuou a escrever. O sucesso de Freud pode ser julgado não só pelo interesse e debate contínuos sobre aspectos da teoria psicanalítica, mas principalmente por suas idéias que se tornaram parte da herança comum da cultura ocidental. Todos nós devemos a Freud a revelação do mundo que repousa sob a nossa consciência.
 

SIGMUND FREUD E A PSICANÁLISE

  O trabalho de Sigmund Freud, nascido das disciplinas especializadas de Neurologia e Psiquiatria, propõe uma concepção de personalidade que surtiu efeitos importantes na cultura ocidental. Sua visão da condição humana, atacando violentamente as opiniões prevalecentes de sua época, oferece um modo complexo e atraente de perceber o desenvolvimento normal e anormal.
  Freud explorou áreas da psique que eram discretamente obscurecidas pela moral e filosofia vitorianas. Descobriu novas abordagens para o tratamento da doença mental. Seu trabalho contestou tabus culturais, religiosos, sociais e científicos. Seus escritos, sua personalidade e sua determinação em ampliar os limites de seu trabalho fizeram dele o centro de um círculo de amigos e críticos em constante mudança.
  Sigmund Freud, pelo poder de sua obra, pela amplitude e audácia de suas especulações, revolucionou o pensamento, as vidas e a imaginação de uma era. Seria difícil encontrar na história das idéias, alguém cuja influência fosse tão imediata, tão vasta e tão profunda.

CONCEITOS PRINCIPAIS

Determinismo Psíquico

  Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade na vida mental. Ele afirmou que nada ocorre por acaso e muito menos os processos mentais. Há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação. Cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precederam. Uma vez que qlguns eventos mentais "parecem" ocorrer espontaneamente, Freud começou a procurar a descrever os elos ocultos que ligavam um evento consciente a outro.

Consciente, Pré-Consciente, Inconsciente

Consciente: O consciente é somente uma pequena parte da mente, inclui tudo do que estamos cientes em um dado momento. Embora Freud estivesse interessado nos mecanismos da consciência, seu interesse era muito maior com relação às áreas da consiência menos expostas e exploradas, que ele denominava pré-consciente e inconsciente.

Inconsciente: Para Freud há conexões entre todos os eventos mentais. Quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos pensamentos e sentimentos que o precedem, as conexões estão no inconsciente. Uma vez que estes elos inconscientes são descobertos, a aparente descontinuidade está resolvida. No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são acessíveis à consciência. Além disto, há material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória ainda afetam a consciência, mas apenas indiretamente. Há uma vivacidade e imediatismo no material inconsciente. Memórias muito antigas quando liberadas à consciência, não perderam nada de sua força emocional. A maior parte da consciência é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica, e pulsões ou instintos.

Pré-Consciente: É uma parte do inconsciente, mas uma parte que pode tornar-se consciente com facilidade. As porções da memória que são acessíveis fazem parte do pré-consciente, ele é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções.

Pulsões ou Instintos

  Freud em geral se referia aos aspectos físicos dos instintos como necessidades; seus aspectos mentais podem ser comumente denominados desejos. Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação. Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto. A fonte, quando emerge a necessidade, pode ser uma parte do corpo ou todo ele. A finalidade é reduzir a necessidade até que mais nenhuma ação seja necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele no momento deseja. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer ou gratificar o instinto; ela é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original.

  Há uma distinção entre os termos pulsão e instinto. Pulsão (em alemão trieb, em inglês drive ou instinct) refere-se ao processo dinâmico que consiste em uma pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz tender o organismo para um alvo. Instinto (em alemão instinkt, em inglês instinct) seria um esquema de comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro, que se desenrola segundo uma seqüência temporal pouco suscetível de alterações, e que parece corresponder a uma finalidade.

Instintos Básicos

  Freud desenvolveu duas descrições dos instintos básicos. O primeiro modelo descrevia duas forças opostas, a sexual (ou, de modo geral, a erótica, fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Estas forças são vistas como ou mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte (ou destruição). Ambas as formulações pressupõem dois conflitos instintivos básicos, biológicos, contínuos e não-resolvidos. Este antagonismo básico não é necessariamente visível na vida mental pois a maioria de nossos pensamentos e ações é evocada não por apenas uma destas forças instintivas, mas por ambas em combinação. Os instintos são canais através dos quais a energia pode fluir. Esta energia obedece às suas próprias leis.

Libido e Energia Agressiva

  Cada um destes instintos gerais tem uma fonte de energia em separado. Libido (da palavra latina para "desejo" ou "anseio") é a energia aproveitável para os instintos de vida. A libido tem como característica a sua mobilidade, isto é, a facilidade com que pode passar de uma área de atenção para outra. A energia do instinto de agressão ou de morte não tem um nome especial. Ela supostamente apresenta as mesmas propriedades gerais que a libido, embora Freud não tenha elucidado este aspecto.

Catexia

  É o processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é vinculada a ou investida na representação mental de uma pessoa, idéia ou coisa. Catexia (do alemão besetzung, que significa ocupar e investir), é um depósito ou porção de libido investida ou catexizada em determinado lugar, deixando, desta maneira, a pessoa com menos esta porção para investir em outro lugar.

Estrutura da Personalidade

  Freud ordenou três componentes básicos estruturais da psique: o id, o ego e o superego.

O Id: Contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento, que está presente na constituição. É a estrutura da personalidade original, básica e mais central, exposta tanto às exigências somáticas do corpo como aos efeitos do ego e do superego. Embora as outras partes da estrutura se desenvolvam a partir do id, ele próprio é amorfo, caótico e desorganizado. Impulsos contraditórios existem lado a lado, sem que um anule o outro, ou sem que um diminua o outro. O id é o reservatório de energia de toda a personalidade. Os conteúdos do id são quase todos inconscientes, eles incluem configurações mentais que nunca se tornaram conscientes, assim como o material que foi considerado inaceitável pela consciência. Um pensamento ou uma lembrança, excluído da consciência e localizado nas sombras do id, é mesmo assim capaz de influenciar a vida mental de uma pessoa.

O Ego:  É a parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa. Desenvolve-se a partir do id. Como a casca de uma árvore, ele protege o id mas extrai dele a energia, a fim de realizar isto. Tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade. O ego se esforça pelo prazer e busca evitar o desprazer. O ego é originalmente criado pelo id na tentativa de enfrentar a necessidade de reduzir a tensão e aumentar o prazer. Para fazer isto, o ego, por sua vez, tem de controlar ou regular os impulsos do id de modo que o indivíduo possa buscar soluções menos imediatas e mais realistas. O id é sensível à necessidade, enquanto que o ego responde às oportunidades.

O Superego:  Ele se desenvolve não a partir do id, mas a partir do ego. Atua como um juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos do ego. É o depósito dos códigos morais, modelos de conduta e dos constructos que constituem as inibições da personalidade. Freud descreve três funções do superego: consciência, auto-observação e formação de ideais. Enquanto consciência, o superego age tanto para restringir, proibir ou julgar a atividade consciente; mas também age inconscientemente. As restrições inconscientes são indiretas, aparecendo como compulsões ou proibições.

Relações entre os Três Subsistemas

   A meta fundamental da psique é manter e recuperar, quando perdido, um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza o desprazer. A energia que é usada para acionar o sistema nasce no id, que é de natureza primitiva, instintiva. O ego, emergindo do id, existe para lidar realisticamente com as pulsões básicas do id e também age como mediador entre as forças que operam no id e no superego e as exigências da realidade externa. O superego, emergindo do ego, atua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do ego. Ele fixa uma série de normas que definem e limitam a flexibilidade deste último. O id é inteiramente inconsciente, o ego e o superego o são em parte. Grande parte do ego e do superego pode permanecer inconsciente e é normalmente inconsciente. Isto é, a pessoa nada sabe dos conteúdos dos mesmos e é necessário despender esforços para torná-los conscientes. O propósito prático da psicanálise é, na verdade, fortalecer o ego, fazê-lo mais independente do superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua organização, de maneira a poder assenhorar-se de novas partes do id.

  Fases Psicossexuais do Desenvolvimento

  Freud usa o termo fixação para descrever o que ocorre quando uma pessoa não progride normalmente de uma fase para outra, mas permanece muito envolvida em uma fase particular. Uma pessoa fixada em uma determinada fase preferirá satisfazer suas necessidades de forma mais simples ou infantil, ao invés dos modos mais adultos que resultariam de um desenvolvimento normal.

Fase Oral: Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão ambas concentradas predominantemente em volta dos lábios, língua e, um pouco, mais tarde, dos dentes. A pulsão básica do bebê não é social ou interpessoal, é apenas receber alimento para atenuar as tensões de fome e sede. No início, ela associa prazer e redução da tensão ao processo de alimentação. Características adultas que estão associadas à fixação parcial na fase oral: fumantes, pessoas que costumam comer demais, gostar de fazer fofoca, sarcasmo.

Fase Anal: À medida que a criança cresce, novas áreas de tensão e gratificação são trazidas à consciência. Entre dois e quatro anos, as crianças geralmente aprendem a controlar os esfíncteres anais e a bexiga. A obtenção do controle fisiológico é ligada à percepção de que esse controle é uma nova fonte de prazer. Características adultas que estão associadas à fixação parcial nesta fase: ordem, parcimônia e obstinação.

Fase Fálica: É a fase que focaliza as áreas genitais do corpo. É o período em que uma criança se dá conta de seu pênis ou da falta de um. É a primeira fase em que as crianças tornam-se conscientes das diferenças sexuais. Nesta fase é vivida a primeira etapa do Complexo de Édipo (a segunda será vivenciada na adolescência). Na infância, todo complexo é reprimido. Mantê-lo inconsciente, impedi-lo de aparecer, evitar até mesmo que se pense a respeito ou que se reflita sobre ele, essas são algumas das primeiras tarefas do superego em desenvolvimento.

Período de Latência: Na idade de 5 a 6 anos até o começo da puberdade, é compreendido como um tempo em que os desejos sexuais não-resolvidos da fase fálica não são atendidos pelo ego e cuja repressão é feita, com sucesso, pelo superego. Durante este período, a sexualidade normalmente não avança mais, pelo contrário, os anseios sexuais diminuem de vigor e são abandonadas e esquecidas muitas coisas que a criança fazia e conhecia. Nesse período da vida, depois que a primeira eflorescência da sexualidade feneceu, surgem atitudes do ego como vergonha, repulsa e moralidade, que estão destinadas a fazer frente à tempestade ulterior da puberdade e a alicerçar o caminho dos desejos sexuais que se vão despertando.

Fase Genital: A fase final do desenvolvimento biológico e psicológico ocorre com o início da puberdade e o conseqüente retorno da energia libidinal aos órgãos sexuais. Neste momento, meninos e meninas estão ambos conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais.

  Sublimação

  A sublimação é o processo através do qual a energia originalmente dirigida para propósitos sexuais ou agressivos é direcionada para novas finalidades, com freqüência metas artísticas, intelectuais ou culturais. A sublimação foi denominada a defesa bem sucedida; ela é a construção de canais alternativos que, por sua vez, podem ser usados para gerar energia elétrica, irrigar áreas outrora áridas, criar parques e oferecer outras oportunidades recreativas. A energia sublimada é responsável pelo que denominamos civilização e reduz as pulsões originais.

  Mecanismos de Defesa do Ego

  O ego protege toda a personalidade contra a ameaça, falsificando a natureza desta. Os modos pelos quais se dão as distorções são denominados mecanismos de defesa. Os principais mecanismos de defesa "patogênicos" são: repressão, negação, racionalização, formação reativa, isolamento, projeção e regressão. A sublimação é uma defesa bem sucedida; ela de fato resolve e elimina a tensão. Todas as outras defesas bloqueiam a expressão direta de necessidades instintivas. Qualquer um destes mecanismos pode ser encontrado em indivíduos saudáveis, sua presença é, via de regra, uma indicação de possíveis sintomas neuróticos.

Repressão: A essência da repressão consiste simplesmente em afastar determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância. A repressão afasta da consciência um evento, idéia ou percepção potencialmente provocadores de ansiedade, impedindo, assim, qualquer solução possível. É pena que o elemento reprimido ainda faça parte da psique, apesar de inconsciente, e que continue a ser um problema. A repressão nunca é realizada de uma vez por todas, mas requer um constante consumo de energia para manter-se, enquanto que o reprimido faz tentativas constantes para encontrar uma saída. Sintomas histéricos com freqüência têm sua origem em uma antiga repressão. Algumas doenças psicossomáticas, tais como asma, artrite e úlcera, podem estar relacionadas com a repressão. Também é possível que o cansaço excessivo, fobias e impotência ou frigidez derivem de sentimentos reprimidos.

Negação: É a tentativa de não aceitar na realidade um fato que perturba o ego, utilizando-se, para isto, de fantasias.

Racionalização: É o processo de achar motivos aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis. É o processo através do qual uma pessoa apresenta uma explicação que é ou logicamente consistente ou eticamente aceitável para uma atitude, ação, idéia ou sentimento que emerge de outras fontes motivadoras. Racionalização é um modo de aceitar a pressão do superego; disfarça nossos motivos, tornando nossas ações moralmente aceitáveis.

Formação Reativa: Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que são diametralmente opostos ao desejo real; é uma inversão clara e, em geral, inconsciente do desejo. Como os outros mecanismos de defesa, as formações reativas são desenvolvidas, em primeiro lugar, na infância.

Projeção: O ato de atribuir a uma outra pessoa, animal ou objeto as qualidades, sentimentos ou intenções que se originam em si próprio, é denominado projeção. É um mecanismo de defesa por meio do qual os aspectos da personalidade de um indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo. A ameaça é tratada como se fosse uma força externa.

Isolamento: É um modo de separar as partes da situação provocadoras de ansiedade, do resto da psique. É o ato de dividir a situação de modo a restar pouca ou nenhuma reação emocional ligada ao acontecimento. O resultado é que, quando uma pessoa discute problemas que foram isolados do resto da personalidade, os fatos são relatados sem sentimento, como se tivessem acontecido a um terceiro. Esta abordagem árida pode tornar-se uma maneira dominante de enfrentar situações. Uma pessoa pode isolar-se cada vez mais em idéias e ter contato cada vez mais com seus próprios sentimentos. O isolamento é um mecanismo de defesa somente quando usado para proteger o ego de aceitar aspectos de situações ou relacionamentos dominados pela ansiedade.

Regressão: É um retorno a um nível de desenvolvimento anterior ou a um modo de expressão mais simples ou mais infantil. É um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realístico para comportamentos que, em anos anteriores, reduziram a ansiedade. A regressão é um modo de defesa mais primitivo. Embora reduza a tensão, freqüentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original.

Resumo dos Mecanismos de Defesa: As defesas aqui descritas são formas que a psique tem de se proteger da tensão interna ou externa. As defesas evitam a realidade (repressão), excluem a realidade (negação), redefinem a realidade (racionalização) ou invertem-na (formação reativa). Elas colocam sentimentos internos no mundo externo (projeção), dividem a realidade (isolamento) ou dela escapam (regressão). Em todos os casos, a energia libidinal é necessária para manter a defesa, limitando efetivamente a flexibilidade e a força do ego. Interrompem a energia psíquica que poderia ser usada para atividades mais eficientes do ego. Quando uma defesa se torna muito influente, domina o ego e restringe sua flexibilidade e adaptabilidade. Finalmente, se as defesas se quebrarem, ele não terá a que recorrer e será dominado pela ansiedade.

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